
O que a ciencia tem a dizer sobre a fé?
Rodopios, cantos, oraç?es - o homem criou técnicas para buscar uma experiencia direta de Deus. E o que diz a ciencia sobre isso? Em primeiro lugar, que nao cabe a ela, ciencia, atestar se Deus existe ou nao. Isso é uma questao de fé.
O que vem ? sua mente quando ouve a palavra isla? Meca. A cidade santa dos muçulmanos, na Arábia Saudita, berço do isl?, onde está a caaba ? uma construçao em forma de cubo que teria sido erguida pelo patriarca Abraao. Os peregrinos d?o sete voltas em torno da caaba.
Agora voce vai conhecer outra prática sagrada no isl? a dança dos dervixes. Eles rodopiam ao redor de um eixo que passa pelo coraçao para chegar mais perto de Alá, a divindade, Deus. Esta é uma dança de amor divino.
Bairro da Penha, Sao Paulo, sábado ? noite. Esta prática de oraçao se chama "zikr" , que em árabe significa lembrança ou recordaçao de Deus.
O que se busca com estas oraçoes é uma aproximaçao amorosa com o criador, Alá. Para estes homens, conhecidos como súfis, a experiencia de Deus ocorre durante um doce arrebatamento.
É uma prática espiritual que uma das possibilidades é que a pessoa entrando em harmonia com seu ser interior consiga se harmonizar com a realidade divina também, experimentar bençaos de Alá?, explica Sheikh Ragip.
O sufismo é uma corrente mística dentro do islamismo; seus princípios teriam sido transmitidos pelo profeta Maomé, que fundou a religiao islâmica no século 7.
Outra prática de oraçao é o giro dervixe.
?O dervixe está sempre girando. Nesse processo o indivíduo acaba entrando em sintonia com uma realidade maior, a manifestaçao da vontade de Alá?, explica Sheikh Ragip.
Diz a tradiçao que foi um poeta quem criou a dança sagrada dos súfis, Rumi. Ele nasceu na Pérsia, no século 13 depois de Cristo, era descendente de uma importante família de teólogos do isl?. Rumi, arrebatado em extase místico, buscou a uniao com a divindade da mesma forma que o amante busca a amada. Rumi escreveu:
"Que o amante seja desgraçado, louco, distraído!
Sempre haverá alguém que esteja sóbrio
Para se preocupar com as coisas que vao de mal a pior.
Deixe o amante ser.
Apenas, ser"
A mao direita voltada para o alto recebe as bençaos de Alá, a mao esquerda, para baixo, distribui essas bençaos.
Rodopios, cantos, oraçoes - o homem criou técnicas para buscar uma experiencia direta de Deus. E o que diz a ciencia sobre isso? Em primeiro lugar, que nao cabe a ela, ciencia, atestar se Deus existe ou nao. Isso é uma quest?o de fé. Mas algumas pesquisas recentes lançam luz sobre coisas interessantes. Por exemplo: o que ocorre no cérebro durante a experiencia religiosa?
?Quando as pessoas estao tendo experiencias religiosas intensas há uma modificaçao no funcionamento do cérebro naquele momento, explica o neuropsiquiatra da Unicamp Paulo Dalgalarrondo.
Dalgalarrondo explica que as modificaçoes do estado cerebral dependem do tipo de prática religiosa: ?Um estudo feito nos Estados Unidos com monges budistas tibetanos mostrou que durante a meditaçao havia uma diminuiçao do metabolismo de uma regi?o do cérebro, a regi?o parietal, que está muito envolvida com a consciencia do corpo, a consciencia da relaç?o eu-mundo.
Ou seja, a atividade cerebral reflete a aç?o de quem medita: romper os laços com o mundo dos objetos sensíveis e assim expandir o estado de consciencia.
Um outro estudo feito na Europa revelou: os cérebros de um grupo de crist?os foram especialmente ativados pela leitura de um salmo bíblico, o salmo 23, aquele que diz: "O senhor é meu pastor, nada me faltará". E mais adiante: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte,
nada temerei, pois Deus está comigo.
O estudo foi feito no Instituto de Neurologia da Universidade de Dusseldorf, na Alemanha, em 2001. Um dos coordenadores da pesquisa, o professor Rüdiger Seitz é protestante, muito religioso, por isso, como neurocientista, se perguntava: será que o cérebro humano tem alguma área específica relacionada a fé das pessoas?
Durante um ano, 12 pessoas e seis religiosos e seis n?o praticantes de qualquer religi?o foram submetidas a testes. Quando eram lidos trechos da Bíblia, principalmente o salmo 23, partes dos cérebros das pessoas ligadas a religi?o eram ativadas, o que é provado pelas tomografias. As partes do cérebro ativadas pela experiencia religiosa s?o as mesmas ligadas as emoçoes e ao poder de memorizaç?o.
Raul Marino Júnior, professor de neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo, autor do livro "A religiao do cérebro", é um defensor da chamada "neuroteologia": o cérebro, afirma, pode funcionar como uma antena e captar o divino.
?Nesse momento, estamos sendo atravessados por milhares de raios cósmicos, por milhares de neutrinos, de fótons, milhares de corpúsculos e de ondas vindas do universo inteiro, diz Marino.
O doutor Marino defende que também existem ondas relacionadas ao divino e que essas ondas podem ser captadas pelo devoto durante sua prática religiosa. As "antenas" seriam os lobos temporais.
Os lobos temporais s?o chamados na neuroteologia de sexto sentido. É esse lobo, principalmente do lado direito, que permite conhecer o divino, sem ajuda externa, afirma Marino.
?A experiencia religiosa, a religiosidade, é um fenômeno humano extremamente complexo, rico, e que n?o se reduz a ativaç?o de uma pequena área cerebral ou a um padr?o neuronal. Mas também tem aspectos culturais, que também s?o muito importantes, aspectos históricos. Nesse sentido, n?o podemos reduzir a experiencia religiosa a um centro cerebral, argumenta Paulo Dalgalarrondo.
REPORTAGEM DO FANTÁSTICO DA REDE GLOBO EXIBIDA DOMINGO DIA 13/11/2005